sexta-feira, agosto 01, 2014

Vovó e Vovô vão morar em casa

Como as famílias devem se ajustar a esta nova realidade

Quando um ente querido envelhece e ocorre a necessidade da vinda dele para a casa de um familiar, seja irmão, sobrinho, filho ou neto, essa nova realidade acaba alterando a rotina de ambos, do idoso e da família. Como sempre digo: “a mudança é muito temida pelas pessoas que preferem não sair da rotina que acomoda, ou seja, sair da zona de conforto!” Logo, é muito comum nos depararmos com famílias que têm idosos vivendo na mesma casa, seja por motivos de viuvez, doença entre outros.

A velhice chega para todos, embora muitos a temam, regada de sabedoria, pela experiência de vida e discernimento frente a diversas situações da vida. Em alguns casos requer paciência por parte dos cuidadores, normalmente filhos e netos, que ironia, não? Pois, quantas vezes esses idosos de hoje tiveram de exercitar a paciência, a abdicação, a disciplina na educação e criação não só dos filhos, mas também dos netos, décadas antes.

Por mais que haja amor, é comum aos netos se incomodarem com as manias dos avós, os filhos perderem a paciência diante das exigências dos pais ou sogros idosos, esquecendo-se de que nem sempre é fácil aceitar, que depois de tantos anos de independência e luta se aperceberem sobremaneira dependentes de quem quer que seja.

Certa vez, atendi uma senhora que se sentia muito solitária após a morte do seu esposo, na ocasião, um dos seus filhos a convidou para morar com ele. Mas ela optou por continuar morando sozinha, dizia que não queria incomodar ninguém, que tinha seus horários e manias e sabia que seu filho, nora e netos também tinham sua rotina, que era totalmente diferente da dela. Mas, ainda assim, ela sentia muita falta das ligações, das visitas, da presença dos filhos e dos netos. Reclamava das reuniões em família, que quando aconteciam, recebia pouca atenção, o dialogo era curto, como se ela não tivesse assunto ou como se a sua opinião não fizesse qualquer diferença.

Por outro lado, acompanhei um jovem senhor que após um problema de saúde enfrentado pela sogra, levou-a para morar com ele e a família, pois era grato a sogra por tudo que ela havia feito pela família ao longo da vida, e não poderia desampará-la naquele momento. Embora, o comportamento dela, muitas vezes, fosse inconveniente, contribuindo para conflitos entre o casal, que se desentendia, mas que fazia de tudo para mantê-la tranquila.

Observando estes exemplos e tantos outros, poderíamos opinar de varias maneiras, mas a realidade não deve ser julgada e sim compreendida, afinal vivenciar a situação é muito mais complexo do que se possa imaginar.

Os idosos, ao se sentirem improdutivos tendem a preferir a morte a continuar vivendo sem uma razão. Muitos precisam de limites, assim como crianças, nestes casos e em quase todos os outros o diálogo é a base da boa comunicação e da boa convivência.

Quando inserido no lar o idoso precisa também de muito amor, acolhimento, tolerância e a união da família. Não é fácil a mudança de vida para os idosos, da mesma forma que não é fácil para um jovem casal receber um bebê, trata-se de uma nova pessoa em sua intimidade, o que muda a vida da outra e requer adaptação e acima de tudo boa vontade.
Como citou Sêneca “Nada é menos digno de honra do que um homem idoso que não tenha outra evidência de ter vivido muito exceto a sua idade”.

(Texto elaborado para a revista Bem Mais, ago/2014)

Deise Alves Barreto de Matos, psicóloga clínica e especialista em psicossomática.

segunda-feira, junho 30, 2014

Conflitos entre irmãos por Deise Barreto

Conflitos entre irmãos

Como os pais podem administrar essa questão

Você provavelmente já se deparou com a frase: “Como pode? Irmãos criados da mesma forma e de temperamentos tão diferentes!”. De fato, na maioria das famílias percebemos irmãos com personalidades distintas. Estranho seria se assim não o fosse...

É compreensível que muitos acreditem que a mesma forma de educação entre irmãos influencie, mas a realidade é que a mãe e o pai vivenciam a maternidade e a paternidade de maneira peculiar a cada gestação. Esse novo ser humano será recebido com uma maternagem adequada ou não para aquele momento, além de se constituir como indivíduo com variáveis inatas aos fatores biológicos e a influência do ambiente no qual estará inserido. A partir desta influência inicial em seu desenvolvimento e dos estímulos externos, é que observaremos como se dá a relação entre irmãos.

Quando a diferença de idade entre irmãos é maior, naturalmente viverão experiências distintas pela fase em que cada um se encontra, o que tende a ser natural é que o irmão adolescente não tenha muita paciência com o que ainda é criança ou o oposto, o irmão mais velho, pode ser super protetor, tanto que acabe fazendo também o papel materno ou paterno com o “caçulinha” que poderá tê-lo como seu maior e melhor exemplo.

Quando possuem a mesma idade, por mais próximos que sejam, também haverá conflitos e em muitos casos se estabelecerá a competição, que pode ser ou não estimulada e alimentada pelos próprios pais e é aí onde mora o perigo. O ser humano é competitivo por natureza e se o ambiente o estimula, podemos ter o conflito do positivo e do negativo no mesmo espaço.

No caso das famílias onde há apenas uma criança, supondo que seja o único neto, sobrinho e filho, naturalmente ela terá toda atenção, carinho e privilégios. Se os pais desejam aumentar a família é importante colocar a criança na decisão e prepará-la para toda mudança que terá de enfrentar. Quando não for planejado, sempre será tempo de inserir a criança neste novo momento, seja conversando, orientando, indicando as responsabilidades sobre o irmão mais novo, no entanto, de maneira a não superiorizá-lo ou inferiorizá-lo, deixando claro que o irmão não será de sua propriedade e que ele não será menos amado pelos pais, que despenderão mais atenção ao pequeno.

Com o passar do tempo a postura dos pais fará a diferença. Embora as crianças sejam educadas pelos mesmos pais em fases diferentes de suas vidas, é necessário que o amor, a união, a parceria e a cumplicidade, sejam alimentados dentro do lar através do diálogo, orientação, limites e sem competições.

É natural que haja mais afinidade dos pais para com um dos filhos, por mais amor que exista entre todos, um filho pode se destacar mais que o outro, suas habilidades, carisma... Mas essas diferenças de personalidades precisam ser respeitadas. Vemos em algumas famílias que quando o pai se identifica com um dos filhos, o qual detém certa habilidade admirável, acaba sendo elogiado demais, enquanto o outro não. Sem contar os que comparam, subestimam e tal comportamento pode acarretar o conflito, o ciúme e pouco a pouco as brigas entre os irmãos, que podem ganhar conotação destrutiva a ponto de prejudicar a convivência. E se pararmos para analisar, infelizmente, isso é muito comum.

Será que tantos conflitos entre irmãos não poderiam ser evitados se fossem observados precocemente pelos pais? Se aborrecer ou vivenciar um atrito acaba sendo muito natural em qualquer relação humana, o que os pais não podem permitir é que uma rivalidade infantil perdure na vida adulta. De que forma? Buscando alimentar a paz familiar e ao detectar a competição precoce tentar revertê-la. Já dizia Aristóteles: As contendas e ódios mais cruéis são os dos irmãos, porque os que muito se amam muito se aborrecem.

Vivemos numa era onde valores se perdem rapidamente, mas não podemos permitir que a família se perca. Os irmãos são os parentes do presente e do futuro, quando a ordem natural da vida se dá, os pais partem e ficam os irmãos, é necessário que um conte com o outro e contribuam para o crescimento da família. Alimentar também, a convivência entre primos é muito importante, pois muitas famílias possuem apenas um filho. O respeito precisa ser o ponto fundamental como em toda relação e esta base, precisa ser constituída no início de tudo!

Texto elaborado para a sessão Família da Revista Bem Mais Osasco - Jul/2014

quinta-feira, junho 12, 2014

DR - Discutindo a Relação

DR - Discutindo a Relação
(Como salvar o amor da rotina).
Há quem diga que mulher adora uma DR (discutir a relação).
Aí eu te pergunto: Só as mulheres?

Atualmente me deparo com mulheres reclamando que o parceiro vive tentando discutir a relação.
Pois é, foi o tempo em que só mulheres provocavam o diálogo no relacionamento. No entanto, confesso que fico feliz deste contexto viver transformações. Afinal, comunicação é tudo!
Toda relação humana requer atenção, seja entre pais e filhos, irmãos, chefe e funcionário, homem e mulher. A partir do momento que existe convivência com outra personalidade há conflito, mas o mesmo perdura ou não dependendo de como os personagens deste enredo conduzem a situação.

Quantas vezes você deixou de expor um ponto de vista com receio de magoar o outro?

Quantas vezes você falou sem pensar, ofendeu e se arrependeu?

Como eu sempre falo para se viver bem é necessário equilíbrio. Viver os extremos nunca será confortável. E podemos falar sobre o que quisermos desde que saibamos usar as palavras certas e no tempo adequado.

Muitos casais chegam ao consultório, insatisfeitos ou frustrados com o relacionamento, por estarem vivendo a relação monótona e acabam confundindo com o fim do amor.
Mas, se observarmos muitos casais com o tempo de convivência perdem aquele combustível do inicio, percebem?
Quando duas pessoas se encontram e se apaixonam, na grande maioria dos casos lutam juntas durante a fase de sedução para que o relacionamento flua, esquecem o cansaço, o tempo, se esforçam para estarem juntas e agradar mutuamente. Se for desta maneira que a paixão foi transformada em amor, se há felicidade em estar junto, o que motivou tudo mudar e cair na rotina?

Muitos terão várias justificativas distintas, mas no fundo a verdade é uma só, houve acomodação, ‘já conquistei, já tenho, amo, sou amada (o) e basta’. Vão permitindo com esse pensamento seja ele consciente ou inconsciente que a relação esfrie, pois deixaram de colocar combustível na mesma.
E aí se resolvem se separar e anos mais tarde na nova relação se deparam com a mesma situação, isto é, se não souberem conduzir de maneira diferente, novamente ocorrerá frustração.

Se no ambiente profissional você permitir que a rotina te deixe relapso e intolerante, a chance de você ser substituído será grande. Logo, na relação amorosa não é diferente, mas o amor é algo tão sublime e se lá atrás você escolheu alguém para compartilhar da vida contigo, por que não lutar?
Por que não expor o que pensa, sente, o que faz falta?
Não apenas isso, mas também ser exemplo, também fazer por onde, agir como gostaria que o outro agisse, pois somente desta forma você terá como cobrar algo, mas não que você tenha que fazer buscando algo em troca, faça por vontade própria, por amor.
Não existe relação sem amor.
Não existe relação sem diálogo.

Lembrando que ninguém precisa viver uma vida infeliz se já não há mais amor e pode finalizar a relação com respeito por tudo que a pessoa significou na sua vida, na sua história...

Segundo o saudoso Paulo Goulart que viveu um exemplo de relacionamento com a atriz Nicette Bruno por 60 anos... “A vida é um aprendizado permanente. Se não exercitar a paciência e o entendimento, se briga por bobagem”.

O relacionamento precisa ser regado constantemente e quem disse que viver uma DR é o fim de tudo?
Pode ser apenas o começo ou recomeço do que não tem fim...

Deise Alves Barreto de Matos, psicóloga clínica e psicossomatista.

(Texto elaborado para a sessão Família da Revista Bem Mais, especial dia dos namorados - Jun/2014).

terça-feira, maio 20, 2014

Mãe possessiva

Como se auto identificar e se auto controlar
Mães que amam demais! Justificativa de muitas mulheres perante o rótulo que ganham de “mãe possessiva”. Rótulo esse, que parte na maioria das vezes dos próprios filhos.

Em qualquer relação amar demais nunca será sinônimo de posse ou de controle. Quem ama, cuida, mas não sufoca. O comportamento possessivo é típico de uma pessoa insegura e controladora e vivenciar este comportamento, acarreta muita angústia no vínculo mãe e filho.
É natural durante a gestação que a mulher vivencie a preocupação materna primária, conceito de Donald Woods Winnicott (1896-1971), pediatra e psicanalista inglês. Winnicott chamou de preocupação materna primária o estado de preocupação inicial da mãe para com o seu bebê, um estado necessário para a qualidade do vínculo mãe-bebê. Neste estado a mãe entra em um processo introspectivo onde o foco é o seu bebê. Esse tipo de preocupação é fundamental para a boa relação entre eles e isso favorecerá a constituição dessa nova vida, enquanto sujeito. No entanto, é necessário após o nascimento que gradativamente a mãe volte a se preocupar com outras questões, além do filho, para que não passe para um estado patológico, onde ambos serão prejudicados.

Já diziam os antigos...“Os filhos são para o mundo.”

A maternagem requer inúmeros fatores, mas o excesso nunca será saudável, em nada, inclusive nas relações humanas. Quando acreditamos poder controlar uma outra vida, como se estivéssemos protegendo-a, a probabilidade de se frustrar futuramente é grande. Pois, muitas circunstâncias fogem ao nosso controle. Quando a mãe protege em demasia seu filho, devido a sua insegurança, estará contribuindo para que ele também seja inseguro, comprometendo o desenvolvimento sadio e como consequência, formará um adolescente ou adulto com inúmeros conflitos internos.

É fácil julgar o comportamento das mães possessivas, mas a angústia delas é grande, o medo de que algo ruim aconteça ao filho a coloca em estado de alerta constante. Então, ela perde o senso e age espontaneamente sufocando, controlando e se esquecendo de que aquele ser precisa ter autonomia e liberdade de escolha. Enquanto é criança, o controle consegue ser maior e eficaz, dentro da visão da mãe, mas na adolescência e vida adulta tais atitudes podem gerar muitos conflitos e danos ao vínculo mãe e filho. Quanto ao filho, independente de como ele reage a essa relação e às consequências psicológicas sofridas por este amor possessivo desde o início da vida, poderá buscar maneiras de fugir ou não desse controle excessivo.

Cuidar da mente, elaborar traumas, lidar com os nossos medos é fundamental para que tenhamos equilíbrio e inteligência emocional. Quando não estamos bem, não conseguimos ajudar ninguém, muito menos educar outro ser. Viver a maternagem requer manejo para que seja bem sucedida. Ser mãe é educar, cuidar, brigar, chorar, brincar, sorrir, ajudar, mudar, se preocupar, se irritar... É, sobretudo saber amar com leveza.

Deise Alves Barreto de Matos, psicóloga clínica e especialista em psicossomática.
psicologa.deise@gmail.com / www.psi-deisebarreto.blogspot.com

Família x Câncer

A importância de cuidar de quem cuida

Existem estudos que focam no impacto da descoberta do câncer pelo paciente e como a notícia é recebida pela família e/ou cuidadores diretos, que geralmente são aqueles que os acompanham ao médico, ministram medicamentos, entre outras tarefas pertinentes. Geralmente, este cuidador é a mãe ou pai, o (a) cônjuge, a irmã (ão), a filha (o) ou outro parente próximo e que resida com o paciente.
No entanto, é perceptível dentro das pesquisas realizadas até o momento, que embora sabe-se da importância de uma maior atenção aos cuidadores, pela sobrecarga emocional e física a eles despendida, não foram encontrados muitos estudos que abordem a psicoterapia para estes. O olhar para a realidade dos pacientes e seus familiares é mínimo, perto da complexidade que o lidar com a luta contra o câncer implica na vida de todos os envolvidos. Eu sempre digo: “Os familiares de pessoas com doenças graves, que desestabilizam a família, precisam de ajuda profissional para lidar com a complexidade do problema e conflitos internos, que geralmente vem à tona frente a tal situação.”
“Embora seja difícil, manter-se sereno e buscar o autocontrole é fundamental para lidar com o tratamento e o passo a passo ao longo da luta contra a doença.”
Esses familiares, obtendo esclarecimentos e acompanhados profissionalmente, estarão melhor preparados para lidar com familiar adoecido, livres de estigmas e culpas. A exemplo da figura materna, que inclusive se culpa muito quando algo foge ao padrão estabelecido, então é necessário tratar esta mãe, que ao culpar-se ficará instável, podendo adoecer e consequentemente ficar impossibilitada de ajudar o filho. Ao lidar com alguns cuidadores é perceptível que o sentimento de culpa é comum, independente do grau de parentesco.
O câncer surge sem aviso e surpreende todos os membros de uma família. O impacto é desestruturador. Afinal, lidar com uma doença e seus imprevistos nunca será simples. Mesmo vivendo em um mundo globalizado e cheio de novas descobertas da medicina, a realidade é bem diferente. Existe ainda muita desinformação e alguns profissionais não utilizam um manejo, uma maternagem, necessária para lidar com o paciente que receberá tal diagnóstico.
Embora seja difícil, manter-se sereno e buscar o autocontrole é fundamental para lidar com o tratamento e o passo a passo ao longo da luta contra a doença. Além disso, com o apoio da família, ajudando e levando força ao paciente, contribuirá diretamente para sua serenidade e confiança em busca da cura.
A psicoterapia, seja no hospital ou no consultório, é tão importante para o paciente quanto para o familiar mais próximo, o cuidador, pois desta maneira, ambos estarão cuidando do psicológico que é fundamental para o equilíbrio necessário durante toda a trajetória da luta contra o câncer.
O paciente, ao sentir-se amado, cuidado, e percebendo a esperança nos olhos dos que lhe são caros, entende que vale a pena lutar, viver e não se entregar. Muitos se preocupam em não passar problemas e tristezas para a família e escondem o sofrimento pelo qual têm passado. Mas esta não deve ser uma luta solitária, não se deve esquecer que este é um momento de união, onde um ajuda o outro. E de acordo com os avanços da medicina, a luta contra este mal vem sendo cada vez mais vitoriosa.

Deise Alves Barreto de Matos, psicóloga clínica e especialista em psicossomática.

Sexo Forte

Os desafios e vitórias fazem parte da vida de toda mulher

Analisando as transformações na rotina feminina, ao longo das últimas décadas, perceberemos a evolução na sua autonomia, com mudanças relevantes. Mas a essência, ah, a essência, essa continua a mesma. Segundo Oscar Niemeyer “Não há nada mais importante que a mulher, o resto é bobagem.” Não sou a favor de dizer que o resto é bobagem, livre de feminismo, mas que a mulher é muito importante na história do mundo, ah, isso é. Tão lindas, complexas e especiais!

A mulher na contemporaneidade vivencia várias faces de maneira exemplar. Convivemos com a mulher mãe, a mulher esposa, a mulher filha, a mulher amiga, a mulher dona de casa, a mulher profissional com carreira bem sucedida, se desdobrando em várias e dando conta de tudo o que se submete a fazer.

Em décadas passadas nos deparávamos com a mulher que saía cedo da casa de seus pais e formava uma família, cuidando do esposo, dos filhos e da casa, costurando, bordando, pintando, cozinhando, limpando, lavando e passando. Passava o dia em meio a tantos afazeres domésticos que uma minoria delas teve a oportunidade de estudar, de se dedicar a uma profissão, de se dividir entre os serviços do lar e de uma carreira.

Atualmente, é mais comum a mulher que se dedica aos estudos, se empenha para obter sucesso na carreira escolhida e agora compete com os homens a altos cargos executivos. Quem poderia imaginar isso no passado? Pouco a pouco muitos homens foram aceitando e respeitando o espaço da mulher no mundo corporativo. É fato. Homens bem resolvidos, livres de preconceitos e machismos, apoiam suas parceiras a crescem intelectual e profissionalmente juntos. Quanto avanço desde que o mundo é mundo!

Hoje a grande maioria das mulheres vivenciam relacionamentos de parcerias, ambos buscam estabilidade financeira, vivem em prol da construção da família, do crescimento pessoal e profissional. Porém, independente do seu estado civil, é mais independente e segura de si. Conquista seus objetivos em todos os aspectos, vive uma rotina complexa e muitas vezes tumultuada, trabalha, estuda, malha, paga as suas contas, mora sozinha, faz produção independente ou se casa, se responsabilizando na maior parte pela organização das tarefas do lar, cuida do marido, do(s) filho(s), vai ao trabalho, estuda, busca a criança no colégio, leva para a atividade física, vai para a academia, passa no supermercado, prepara o jantar, vê e ajuda a lição do filho, adoece e ainda precisa encontrar tempo para cuidar das unhas, dos cabelos, para ser filha, irmã, tia, amiga e amante.

Ufa! Cansa só de ler não é mesmo?!

Como pode um ser tão frágil, ser tão forte e tão sábio a ponto de administrar tão bem o seu pouco tempo para dar conta de tantas responsabilidades? As respostas algumas sabem dar sem sequer pestanejar.

A mulher ao meu ver é um ser admirável, possui virtudes e defeitos. Mas é especial em sua essência, força e potencial. Tem colo que acolhe, abraço que abraça, força inexplicável, garra incomparável. A mulher que reconhece o seu valor se permite viver a sensibilidade inerente a ela, mesmo quando é necessário ser forte, principalmente nos maus momentos. É lindo de se ver e conviver. A mulher é abençoada por Deus e bonita por natureza, disso eu tenho certeza!

Deise Alves Barreto de Matos, psicóloga clínica e especialista em psicossomática.

psicologa.deise@gmail.com / www.psi-deisebarreto.blogspot.com

Crianças especiais, pais especiais!


Como o amor e a dedicação podem superar o desafio de cuidar de um filho especial

Um casal, ao planejar a chegada de um bebê, vivencia o momento pré-gestação e gestação com grande expectativa. Ambos criados de maneiras distintas compartilharão este sonho, vão projetar ideais de como este filho deve ser. Isso cabe, a meu ver, em qualquer gestação, pois mesmo quando não planejada, os pais tendem, após digerir a boa nova, a realizar projeções diversas. E então, escolhem o nome, o time de futebol, a escola e muitos, até a carreira que o filho irá seguir. Esperam que tenha o sorriso da mãe, os olhos da avó, o jeito do pai, que venha com saúde e traga muitas alegrias.

Passados os nove meses, eis que nasce o filho tão esperado... Muito mais especial do que imaginavam... Alguns pais ou avós se revoltam com a idealização frustrada... Mas a grande maioria, não. Isto é gratificante ao lidar com pais especiais. Aqueles pais ou um dos dois, que gerou tanta expectativa sobre a chegada daquela criança, não se revolta, porque nascem também uma nova mãe e um novo pai, ou pais muito especiais, que irão mudar as circunstâncias de suas vidas em prol desta criança enviada a eles como um presente.

“Amar, cuidar e educar uma criança especial requer sensibilidade, disponibilidades interna e externa, maturidade que independe da idade cronológica dos pais.”

Amar, cuidar e educar uma criança especial requer sensibilidade, disponibilidades interna e externa, maturidade que independe da idade cronológica dos pais. Essa família viverá uma missão belíssima que é a de viver em uma sociedade com tantos estigmas, mas atualmente com mais possibilidades, onde possam se aprimorar em todos os sentidos. Respeitando o tempo e necessidades da criança, enxergando juntos o lado positivo através desta nova realidade. AFINAL, NADA NESTA VIDA É POR ACASO!

Tive a oportunidade de conhecer um jovem casal que projetou sonhos na primeira gestação. O nome escolhido para o bebê já veio carregado da ideia de que o menino se tornasse jogador de futebol. Tudo correu bem durante a gravidez, mas no momento do parto, a falta de oxigênio no cérebro da criança acarretou problemas sérios. Os médicos deram pouca expectativa de vida para o menino. E mesmo sem o apoio das famílias, os pais mudaram toda sua vida em prol dos cuidados com a criança. Naquele dia, além do bebê, nasceram dois novos seres humanos. A mãe, abriu mão da vida profissional, devido aos cuidados constantes que a criança necessitava, ela acreditava que somente a mãe poderia amar e cuidar da forma que ele merecia e necessitava.

Os médicos se enganaram, a estimativa de vida superou qualquer diagnóstico. Hoje o menino conta com

23 anos, não fala, não anda, depende da mãe em 100%, seu nível de autonomia é zero. Embora seja uma família de poucos recursos financeiros, a mãe sempre está sorrindo com cada mínima evolução no quadro do seu filho. Ela se transformou em uma pessoa paciente, tolerante, sorridente desde o nascimento do seu menino. Ao lado do seu esposo e de sua filha de 20 anos, muito saudável, amam incondicionalmente este ente querido tão especial, que transformou a vida deles e modificou o olhar desta família frente ao que realmente importa dentro de um lar. Compreendendo que são sim bem aventurados e que foram presenteados com um anjo mais que especial.

Deise Alves Barreto de Matos, psicóloga clínica e especialista em psicossomática.

psicologa.deise@gmail.com

www.psi-deisebarreto.blogspot.com