terça-feira, maio 20, 2014

Mãe possessiva

Como se auto identificar e se auto controlar
Mães que amam demais! Justificativa de muitas mulheres perante o rótulo que ganham de “mãe possessiva”. Rótulo esse, que parte na maioria das vezes dos próprios filhos.

Em qualquer relação amar demais nunca será sinônimo de posse ou de controle. Quem ama, cuida, mas não sufoca. O comportamento possessivo é típico de uma pessoa insegura e controladora e vivenciar este comportamento, acarreta muita angústia no vínculo mãe e filho.
É natural durante a gestação que a mulher vivencie a preocupação materna primária, conceito de Donald Woods Winnicott (1896-1971), pediatra e psicanalista inglês. Winnicott chamou de preocupação materna primária o estado de preocupação inicial da mãe para com o seu bebê, um estado necessário para a qualidade do vínculo mãe-bebê. Neste estado a mãe entra em um processo introspectivo onde o foco é o seu bebê. Esse tipo de preocupação é fundamental para a boa relação entre eles e isso favorecerá a constituição dessa nova vida, enquanto sujeito. No entanto, é necessário após o nascimento que gradativamente a mãe volte a se preocupar com outras questões, além do filho, para que não passe para um estado patológico, onde ambos serão prejudicados.

Já diziam os antigos...“Os filhos são para o mundo.”

A maternagem requer inúmeros fatores, mas o excesso nunca será saudável, em nada, inclusive nas relações humanas. Quando acreditamos poder controlar uma outra vida, como se estivéssemos protegendo-a, a probabilidade de se frustrar futuramente é grande. Pois, muitas circunstâncias fogem ao nosso controle. Quando a mãe protege em demasia seu filho, devido a sua insegurança, estará contribuindo para que ele também seja inseguro, comprometendo o desenvolvimento sadio e como consequência, formará um adolescente ou adulto com inúmeros conflitos internos.

É fácil julgar o comportamento das mães possessivas, mas a angústia delas é grande, o medo de que algo ruim aconteça ao filho a coloca em estado de alerta constante. Então, ela perde o senso e age espontaneamente sufocando, controlando e se esquecendo de que aquele ser precisa ter autonomia e liberdade de escolha. Enquanto é criança, o controle consegue ser maior e eficaz, dentro da visão da mãe, mas na adolescência e vida adulta tais atitudes podem gerar muitos conflitos e danos ao vínculo mãe e filho. Quanto ao filho, independente de como ele reage a essa relação e às consequências psicológicas sofridas por este amor possessivo desde o início da vida, poderá buscar maneiras de fugir ou não desse controle excessivo.

Cuidar da mente, elaborar traumas, lidar com os nossos medos é fundamental para que tenhamos equilíbrio e inteligência emocional. Quando não estamos bem, não conseguimos ajudar ninguém, muito menos educar outro ser. Viver a maternagem requer manejo para que seja bem sucedida. Ser mãe é educar, cuidar, brigar, chorar, brincar, sorrir, ajudar, mudar, se preocupar, se irritar... É, sobretudo saber amar com leveza.

Deise Alves Barreto de Matos, psicóloga clínica e especialista em psicossomática.
psicologa.deise@gmail.com / www.psi-deisebarreto.blogspot.com

Família x Câncer

A importância de cuidar de quem cuida

Existem estudos que focam no impacto da descoberta do câncer pelo paciente e como a notícia é recebida pela família e/ou cuidadores diretos, que geralmente são aqueles que os acompanham ao médico, ministram medicamentos, entre outras tarefas pertinentes. Geralmente, este cuidador é a mãe ou pai, o (a) cônjuge, a irmã (ão), a filha (o) ou outro parente próximo e que resida com o paciente.
No entanto, é perceptível dentro das pesquisas realizadas até o momento, que embora sabe-se da importância de uma maior atenção aos cuidadores, pela sobrecarga emocional e física a eles despendida, não foram encontrados muitos estudos que abordem a psicoterapia para estes. O olhar para a realidade dos pacientes e seus familiares é mínimo, perto da complexidade que o lidar com a luta contra o câncer implica na vida de todos os envolvidos. Eu sempre digo: “Os familiares de pessoas com doenças graves, que desestabilizam a família, precisam de ajuda profissional para lidar com a complexidade do problema e conflitos internos, que geralmente vem à tona frente a tal situação.”
“Embora seja difícil, manter-se sereno e buscar o autocontrole é fundamental para lidar com o tratamento e o passo a passo ao longo da luta contra a doença.”
Esses familiares, obtendo esclarecimentos e acompanhados profissionalmente, estarão melhor preparados para lidar com familiar adoecido, livres de estigmas e culpas. A exemplo da figura materna, que inclusive se culpa muito quando algo foge ao padrão estabelecido, então é necessário tratar esta mãe, que ao culpar-se ficará instável, podendo adoecer e consequentemente ficar impossibilitada de ajudar o filho. Ao lidar com alguns cuidadores é perceptível que o sentimento de culpa é comum, independente do grau de parentesco.
O câncer surge sem aviso e surpreende todos os membros de uma família. O impacto é desestruturador. Afinal, lidar com uma doença e seus imprevistos nunca será simples. Mesmo vivendo em um mundo globalizado e cheio de novas descobertas da medicina, a realidade é bem diferente. Existe ainda muita desinformação e alguns profissionais não utilizam um manejo, uma maternagem, necessária para lidar com o paciente que receberá tal diagnóstico.
Embora seja difícil, manter-se sereno e buscar o autocontrole é fundamental para lidar com o tratamento e o passo a passo ao longo da luta contra a doença. Além disso, com o apoio da família, ajudando e levando força ao paciente, contribuirá diretamente para sua serenidade e confiança em busca da cura.
A psicoterapia, seja no hospital ou no consultório, é tão importante para o paciente quanto para o familiar mais próximo, o cuidador, pois desta maneira, ambos estarão cuidando do psicológico que é fundamental para o equilíbrio necessário durante toda a trajetória da luta contra o câncer.
O paciente, ao sentir-se amado, cuidado, e percebendo a esperança nos olhos dos que lhe são caros, entende que vale a pena lutar, viver e não se entregar. Muitos se preocupam em não passar problemas e tristezas para a família e escondem o sofrimento pelo qual têm passado. Mas esta não deve ser uma luta solitária, não se deve esquecer que este é um momento de união, onde um ajuda o outro. E de acordo com os avanços da medicina, a luta contra este mal vem sendo cada vez mais vitoriosa.

Deise Alves Barreto de Matos, psicóloga clínica e especialista em psicossomática.

Sexo Forte

Os desafios e vitórias fazem parte da vida de toda mulher

Analisando as transformações na rotina feminina, ao longo das últimas décadas, perceberemos a evolução na sua autonomia, com mudanças relevantes. Mas a essência, ah, a essência, essa continua a mesma. Segundo Oscar Niemeyer “Não há nada mais importante que a mulher, o resto é bobagem.” Não sou a favor de dizer que o resto é bobagem, livre de feminismo, mas que a mulher é muito importante na história do mundo, ah, isso é. Tão lindas, complexas e especiais!

A mulher na contemporaneidade vivencia várias faces de maneira exemplar. Convivemos com a mulher mãe, a mulher esposa, a mulher filha, a mulher amiga, a mulher dona de casa, a mulher profissional com carreira bem sucedida, se desdobrando em várias e dando conta de tudo o que se submete a fazer.

Em décadas passadas nos deparávamos com a mulher que saía cedo da casa de seus pais e formava uma família, cuidando do esposo, dos filhos e da casa, costurando, bordando, pintando, cozinhando, limpando, lavando e passando. Passava o dia em meio a tantos afazeres domésticos que uma minoria delas teve a oportunidade de estudar, de se dedicar a uma profissão, de se dividir entre os serviços do lar e de uma carreira.

Atualmente, é mais comum a mulher que se dedica aos estudos, se empenha para obter sucesso na carreira escolhida e agora compete com os homens a altos cargos executivos. Quem poderia imaginar isso no passado? Pouco a pouco muitos homens foram aceitando e respeitando o espaço da mulher no mundo corporativo. É fato. Homens bem resolvidos, livres de preconceitos e machismos, apoiam suas parceiras a crescem intelectual e profissionalmente juntos. Quanto avanço desde que o mundo é mundo!

Hoje a grande maioria das mulheres vivenciam relacionamentos de parcerias, ambos buscam estabilidade financeira, vivem em prol da construção da família, do crescimento pessoal e profissional. Porém, independente do seu estado civil, é mais independente e segura de si. Conquista seus objetivos em todos os aspectos, vive uma rotina complexa e muitas vezes tumultuada, trabalha, estuda, malha, paga as suas contas, mora sozinha, faz produção independente ou se casa, se responsabilizando na maior parte pela organização das tarefas do lar, cuida do marido, do(s) filho(s), vai ao trabalho, estuda, busca a criança no colégio, leva para a atividade física, vai para a academia, passa no supermercado, prepara o jantar, vê e ajuda a lição do filho, adoece e ainda precisa encontrar tempo para cuidar das unhas, dos cabelos, para ser filha, irmã, tia, amiga e amante.

Ufa! Cansa só de ler não é mesmo?!

Como pode um ser tão frágil, ser tão forte e tão sábio a ponto de administrar tão bem o seu pouco tempo para dar conta de tantas responsabilidades? As respostas algumas sabem dar sem sequer pestanejar.

A mulher ao meu ver é um ser admirável, possui virtudes e defeitos. Mas é especial em sua essência, força e potencial. Tem colo que acolhe, abraço que abraça, força inexplicável, garra incomparável. A mulher que reconhece o seu valor se permite viver a sensibilidade inerente a ela, mesmo quando é necessário ser forte, principalmente nos maus momentos. É lindo de se ver e conviver. A mulher é abençoada por Deus e bonita por natureza, disso eu tenho certeza!

Deise Alves Barreto de Matos, psicóloga clínica e especialista em psicossomática.

psicologa.deise@gmail.com / www.psi-deisebarreto.blogspot.com

Crianças especiais, pais especiais!


Como o amor e a dedicação podem superar o desafio de cuidar de um filho especial

Um casal, ao planejar a chegada de um bebê, vivencia o momento pré-gestação e gestação com grande expectativa. Ambos criados de maneiras distintas compartilharão este sonho, vão projetar ideais de como este filho deve ser. Isso cabe, a meu ver, em qualquer gestação, pois mesmo quando não planejada, os pais tendem, após digerir a boa nova, a realizar projeções diversas. E então, escolhem o nome, o time de futebol, a escola e muitos, até a carreira que o filho irá seguir. Esperam que tenha o sorriso da mãe, os olhos da avó, o jeito do pai, que venha com saúde e traga muitas alegrias.

Passados os nove meses, eis que nasce o filho tão esperado... Muito mais especial do que imaginavam... Alguns pais ou avós se revoltam com a idealização frustrada... Mas a grande maioria, não. Isto é gratificante ao lidar com pais especiais. Aqueles pais ou um dos dois, que gerou tanta expectativa sobre a chegada daquela criança, não se revolta, porque nascem também uma nova mãe e um novo pai, ou pais muito especiais, que irão mudar as circunstâncias de suas vidas em prol desta criança enviada a eles como um presente.

“Amar, cuidar e educar uma criança especial requer sensibilidade, disponibilidades interna e externa, maturidade que independe da idade cronológica dos pais.”

Amar, cuidar e educar uma criança especial requer sensibilidade, disponibilidades interna e externa, maturidade que independe da idade cronológica dos pais. Essa família viverá uma missão belíssima que é a de viver em uma sociedade com tantos estigmas, mas atualmente com mais possibilidades, onde possam se aprimorar em todos os sentidos. Respeitando o tempo e necessidades da criança, enxergando juntos o lado positivo através desta nova realidade. AFINAL, NADA NESTA VIDA É POR ACASO!

Tive a oportunidade de conhecer um jovem casal que projetou sonhos na primeira gestação. O nome escolhido para o bebê já veio carregado da ideia de que o menino se tornasse jogador de futebol. Tudo correu bem durante a gravidez, mas no momento do parto, a falta de oxigênio no cérebro da criança acarretou problemas sérios. Os médicos deram pouca expectativa de vida para o menino. E mesmo sem o apoio das famílias, os pais mudaram toda sua vida em prol dos cuidados com a criança. Naquele dia, além do bebê, nasceram dois novos seres humanos. A mãe, abriu mão da vida profissional, devido aos cuidados constantes que a criança necessitava, ela acreditava que somente a mãe poderia amar e cuidar da forma que ele merecia e necessitava.

Os médicos se enganaram, a estimativa de vida superou qualquer diagnóstico. Hoje o menino conta com

23 anos, não fala, não anda, depende da mãe em 100%, seu nível de autonomia é zero. Embora seja uma família de poucos recursos financeiros, a mãe sempre está sorrindo com cada mínima evolução no quadro do seu filho. Ela se transformou em uma pessoa paciente, tolerante, sorridente desde o nascimento do seu menino. Ao lado do seu esposo e de sua filha de 20 anos, muito saudável, amam incondicionalmente este ente querido tão especial, que transformou a vida deles e modificou o olhar desta família frente ao que realmente importa dentro de um lar. Compreendendo que são sim bem aventurados e que foram presenteados com um anjo mais que especial.

Deise Alves Barreto de Matos, psicóloga clínica e especialista em psicossomática.

psicologa.deise@gmail.com

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