quarta-feira, outubro 16, 2013

COMO SALVAR NOSSAS CRIANÇAS DO CONSUMISMO

A infância é um período de desenvolvimento físico, mais do que isto, é um período onde o ser desenvolve-se psicologicamente, envolvendo graduais mudanças no comportamento e nas bases de sua personalidade. Se compararmos a infância em décadas anteriores ao ano de 2000, perceberemos muitas mudanças. Tempos atrás as crianças viviam sua ingenuidade, espontaneidade, como constatou Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, a importância do brincar e dos primeiros anos na construção da identidade pessoal. Como também a importância do ambiente. A criatividade é de extrema importância no brincar, a partir disto, o indivíduo cria subsídios para dar conta de muitos aspectos ao longo da vida.

Na contemporaneidade o consumismo desenfreado toma conta da vida dos adultos e da realidade infantil. Crianças e adolescentes trocaram brincadeiras e brinquedos simples por eletrônicos ou por uma vida de imitação dos adultos. Hoje, é comum trocar a festa com tema infantil pela festa infantil no cabeleireiro, uma cirurgia plástica no lugar da festa de debutante. Meninas com o desejo de ser mulher precocemente e de forma mais intensa que antigamente.

Crianças comprometidas, além da escola, com o curso de idiomas e com esportes, entretenimentos no Ipad ou Xbox, sem contar o celular moderno, que não pode ficar para trás diante dos colegas da escola. Enfim, o ser humano sempre foi competitivo, desde que o mundo é mundo, as crianças sempre quiseram brinquedos bacanas como os dos amigos, mas o limite, penso, era imposto mais acertadamente em décadas passadas.

As crianças podiam até se frustrar, mas a frustração é necessária para a estruturação da personalidade. O NÃO é importante e antigamente era dito com mais frequência, os pais explicavam que nem tudo que se quer se pode ter ou pelo menos, não naquele momento. Pais até presenteavam os filhos, mas em uma data especial e se realmente fossem merecedores. Atualmente vemos pais que trabalham muito e abrem mão de muitas coisas para deixar o filho ‘na moda’. Os pais estimulam os filhos ao consumismo e a uma briga de egos. “Meu filho estuda em tal escola, pratica tal esporte, possui tal eletrônico...” Pais competem e filhos reproduzem essa competição. Vivemos a era do imediatismo. O que por um lado beneficia os pais. “Trabalho muito e não tenho tempo para lhe dar atenção. Dou eletrônicos e você me deixa em paz!”.

Com o mercado aquecido, homens e mulheres inseridos, com mais oportunidades de proporcionar ‘coisas’ aos filhos, que se adaptam com a tecnologia e com presentes, enquanto se perdem a brincadeira, a troca espontânea, a conversa, a família à mesa do jantar, a reunião para assistir a um programa na sala, é mais cômodo cada um ir para o seu quarto assistir a sua televisão ou mexer no seu notebook. O consumismo acaba sendo um ganho secundário para ambos, pais e filhos, mas a essência da família vai se perdendo e a ‘falta’ do que realmente importa é nítida no vazio de muitas relações.

Deise Alves Barreto, psicóloga clínica e psicossomatista.
psicologa.deise@gmail.com / www.psi-deisebarreto.blogspot.com


Texto elaborado para a sessão Família da Revista BMO - edição Out/13.

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